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O Ministério Público Estadual apontou que ex-governador Silval Barbosa fez “cobranças incisivas e até agressivas” quando o empresário Milton Bellincanta deixou de pagar o restante da propina, combinada em R$ 5,6 milhões, em troca de benefícios fiscais a suas empresas. O ex-governador chegou a afirmar ao empresário: "Isso não vai ficar bom pra você”.
O pagamento da propina foi uma exigência feita por Silval para conceder incentivos às empresas de Bellincanta, a Vale Grande Indústria e Comércio de Alimentos (Frialto) e Nortão Industrial de Alimentos.
A informação consta na denúncia do MPE contra Silval, Bellincanta, Antonio Barbosa (irmão de Silval) e os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf e Marcel de Cursi pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Também foi denunciado o procurador aposentado do Estado, Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o “Chico Lima”.
Segundo a denúncia, até dezembro de 2014 o empresário pagou R$ 1,9 milhão de propina ao grupo.
Ele deixou de quitar o restante, conforme o MPE, porque, em janeiro de 2015, já no Governo Pedro Taques, a Procuradoria Geral do Estado de Mato Grosso ingressou com Ação Declaratória de Nulidade de Ato Jurídico para buscar a anulação judicial do acordo de incentivo fiscal.
Bellincanta relatou que o grupo de Silval não aceitou a suspensão dos pagamentos e que, apesar das providências adotadas pela gestão do então emedebista não terem solucionado suas pendências tributárias, foi incessantemente cobrado pelo ex-governador para que realizasse o pagamento integral do valor ajustado.
“Ilustrando a postura destemida da organização criminosa, é oportuno registrar que cobranças incisivas e até agressivas aconteceram ao longo do ano de 2015, quando os seus membros já não participavam da Administração Pública, com exceção do denunciado Marcel de Cursi que, como se sabe, é servidor de carreira da Sefaz”, diz trecho da denúncia.
Ainda de acordo com a denúncia, no mês de abril de 2015, Silval solicitou uma reunião com Bellincanta, que aconteceu no seu escritório em Cuiabá, cujo objetivo foi exclusivamente o de cobrar o pagamento da propina remanescente.
Ainda em meados de 2015, conforme a denúncia, o empresário voltou a ser procurado por Silval, que solicitou uma nova reunião, realizada desta vez nas dependências do frigorífico Frialto, em Sinop.
“Na reunião compareceram os denunciados Silval Barbosa e Pedro Nadaf, sendo que Silval insistiu no pagamento do valor restante dizendo: ‘Essa história não vai acabar bem. Eu já fiz a minha parte, falta você fazer a sua’. Completando ainda: ‘Isso não vai ficar bom pra você, caso não realize o pagamento do que você me deve’”, diz trecho da denúncia.
Conforme o documento, as cobranças continuaram durante o segundo semestre de 2015, sendo que as duas últimas aconteceram na cidade de São Paulo, uma nas dependências de um hotel localizado na Vila Olímpia e outra no escritório da empresa, no mesmo bairro.
Segundo o MPE, as cobranças só cessaram porque o ex-governador foi preso em setembro de 2015.
Fac-símile de trecho da denúncia: